Em sua página nas redes sociais, @sebastiao.salgados criou o “Festival Miojo Literário” (Instagram) em comemoração ao Dia do Escritor (#sebastiaoseriesescritores). O desafio era que seus seguidores assumissem a máscara discursiva de um(a) escritor(a) literário(a) para narrar o ato de comer um miojo. A primeira provocação se deu com a seguinte postagem: − Você é escritora? − Sou sim. − Então fala: “Comi um miojo”. Vários seguidores toparam o desafio, como, por exemplo, o internauta @aldanuzio, que assumiu ser o poeta Gonçalves Dias, e escreveu:

Texto 1

Minha terra tem miojo
E não é de Sabiá
É galinha caipira
Tempero que aqui não há.

Em cismar sozinho à noite
Não sabes prazer que me dá
O fervor em três minutos
Macarrão melhor não há.

Texto 2

Canção do exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
...
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá...

a) Considerando as formas de intertextualidade entre o tema “comer um miojo” e o poema de Gonçalves Dias, pode-se dizer que a produção do internauta é uma paráfrase ou uma paródia? Justifique sua resposta, com base nos textos 1 e 2.

b) Para este Vestibular Unicamp 2024, você leu a obra literária Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Aceite o desafio de @sebastiao.salgados, entre no país das maravilhas e elabore um diálogo em discurso direto, entre o Coelho Branco e o Chapeleiro Maluco. O diálogo deve mostrar ao menos uma característica de cada um dos personagens, o Coelho e o Chapeleiro, com mínimo de 3 e máximo de 5 linhas.

a) O texto do internauta @aldanuzio parodia o poema de Gonçalves Dias (1823 – 1864). A relação intertextual pode ser identificada, no texto 1, tanto pela incorporação de figuras emblemáticas do poema original (“minha terra”, “Sabiá”), quanto pela menção saudosa à superioridade de sua terra (“Tempero que aqui não há”), tal como ocorre na “Canção do exílio” (“As aves que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”). Tais referências, porém, são evocadas de forma jocosa, pois não se trata mais de uma eloquente valorização da terra natal (tema caro ao Romantismo e presente no poema original), mas sim de algo prosaico, no caso, o cozimento de um macarrão instantâneo (“miojo”). Dessa forma, constrói-se uma paródia.

b) Uma das principais características do Coelho Branco é a pressa com que procura cumprir seus compromissos. Já um traço relevante do Chapeleiro Maluco é o fato de que ele se orienta por um relógio que sempre marca 6h da tarde. Uma possibilidade de diálogo entre eles seria:

                — Pelos meus bigodes! A Rainha vai me matar! Estou atrasado! – disse o Coelho Branco.

                — Por que tanta pressa? – perguntou o Chapeleiro Maluco.

                — A Rainha está com fome! E eu não sei o que preparar para ela! O jantar vai começar em cinco minutos!

                — Um Miojo fica pronto em três minutos! É tão gostoso que até o Caxinguelê acorda para comê-lo! E olha que eu nunca me atraso, pois meu relógio está sempre parado às 6 horas!