Texto para a questão.
UM PIOLHO DE RUI BARBOSA
Certo piolho de Rui Barbosa
confiou a um memorialista
que se nascer pernambucano
é nascer ninguém, é sem chispa.
E explicou: a paisagem pouca
de Pernambuco não podia
parir vulcões de Ruibarbosas,
Castroalves (modesto, ele se excluía).
O piolho, decerto, ouviu Rui
(Castroalves não viu, talvez leu-o,
em casa, mas com o dó-de-peito
com que o leria de um coreto);
mas quem ouviu quem não ouviu:
veio de tais piolhos grotescos
o único estilo nacional:
ler como discurso um soneto;
não poder escrever sem fala;
e falar sem encher o peito,
como se o rádio não o levasse
às amazônias de seu berço.
Ora, Rui falava apagado,
nas horizontais que podia:
são os piolhos que em seu piano
põem vulcões na melodia.
João Cabral de Melo Neto, Museu de tudo e depois.
No poema, a crítica dirigida ao dito “piolho de Rui Barbosa” desdobrase, ainda, na crítica ao que o poeta considera ser “o único estilo nacional”, que se caracterizaria por sua
O que o poeta considera ser “o único estilo nacional” resume-se em “ler como discurso um soneto”, o que ele ilustra como alguém que não consegue “falar sem encher o peito”. A crítica se dá, portanto, à forte propensão para a oratória desse estilo.