Texto para a questão.

UM PIOLHO DE RUI BARBOSA

Certo piolho de Rui Barbosa
confiou a um memorialista
que se nascer pernambucano
é nascer ninguém, é sem chispa. 

E explicou: a paisagem pouca
de Pernambuco não podia
parir vulcões de Ruibarbosas,
Castroalves (modesto, ele se excluía).

O piolho, decerto, ouviu Rui
(Castroalves não viu, talvez leu-o,
em casa, mas com o dó-de-peito
com que o leria de um coreto);

mas quem ouviu quem não ouviu:
veio de tais piolhos grotescos
o único estilo nacional:
ler como discurso um soneto; 

não poder escrever sem fala;
e falar sem encher o peito,
como se o rádio não o levasse
às amazônias de seu berço. 

Ora, Rui falava apagado,
nas horizontais que podia: 

são os piolhos que em seu piano
põem vulcões na melodia. 

João Cabral de Melo Neto, Museu de tudo e depois.

O poeta só NÃO sugere que aquele a quem chama de “piolho de Rui Barbosa” manifesta a seguinte atitude:

  • a

    expressão de preconceito regional. 

  • b

    crença no determinismo geográfico. 

  • c

    capacidade de falsear os fatos. 

  • d

    manipulação difamatória dos meios de comunicação modernos. 

  • e

    disseminação de prejuízo à cultura nacional.

Dentre as atitudes atribuídas pelo poeta a quem chama “piolho de Rui Barbosa” não se pode dizer que haja “manipulação difamatória dos meios de comunicação modernos”. Ainda que o poema mencione o papel do rádio (meio de comunicação) na difusão do “único estilo nacional”, ele o faz de maneira positiva, sem qualquer menção a uma suposta manipulação difamatória.