TEXTO I
Alegria, alegria
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?
VELOSO, C Alegria, alegria Rio de Janeiro Polygram, 1990 (fragmento)
TEXTO II
Anjos tronchos
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis
Agora a minha história é um denso algoritmo
Que vende venda a vendedores reais
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo
E mais, e mais, e mais, e mais, e mais
VELOSO, C Meu coco. Rio de Janeiro. Sony, 2021 (fragmento)
Embora oriundas de momentos históricos diferentes, essas letras de canção têm em comum a
Nas duas letras de canção, Caetano Veloso se refere a uma mesma circunstância da vida moderna: a proliferação de notícias que atinge o enunciador exposto aos efeitos dos meios de comunicação de massa. Em um primeiro momento (Texto I), o autor se refere aos jornais que compõem o cenário das “bancas de revista”, repletos de “fotos e nomes”, promovendo uma experiência visual variada (“os olhos cheios de cores”). Em um segundo momento, o desenvolvimento tecnológico traz novas marcas a essa comunicação, feita agora por intermédio de “telas dos azuis mais do que azuis”, que escondem “um denso algoritmo” e submetem o enunciador a uma nova experiência sensorial, que atinge “neurônios” que “ganharam outro ritmo”.