Tudo no governo Geisel girou, desde o princípio, em torno da distensão, pensamento central do presidente e de seu assessor político transformado em chefe da Casa Civil, o general Golbery do Couto e Silva. Sobreviventes ambos do governo Castelo Branco, retomaram em política interna a orientação geral dos primeiros tempos. [...] O nome oficial “distensão”, e não abertura ou redemocratização, denunciava o real significado da ideia: não se cogitava devolver logo o poder aos civis como se os objetivos de 1964 tivessem sido alcançados.
(Rubens Ricupero. A diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016, 2017.)
A distensão mencionada no excerto
A partir da interpretação do excerto, pode-se concluir que as ações estabelecidas pelo presidente Geisel, que governou em um cenário de crise econômica e questionamentos acerca dos tantos anos de opressão e ditadura, pretendiam reestabelecer a lógica inicial implantada a partir do governo Castelo Branco, referência do grupo militar mais moderado. A proposta da chamada “Linha Branda”, pautada na “Doutrina de Segurança Nacional”, era focar as ações do Estado no combate aos considerados subversivos, sem escancarar um Estado ditatorial excessivamente violento. Não se deveria, portanto, admitir o abrandamento da ditadura como um processo de redemocratização, uma vez que, do ponto de vista dos civis e militares do governo, o país passava por uma “revolução democrática”, que estava servindo para evitar uma verdadeira ditadura comunista no país.