Leia o trecho do livro O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano, do neurocientista português António Rosa Damásio, para responder à questão.

O principal enfoque em O erro de Descartes é a relação entre emoção e razão. Baseado em meu estudo de pacientes neurológicos que apresentavam deficiências na tomada de decisão e distúrbios da emoção, construí a hipótese de que a emoção era parte integrante do processo de raciocínio e poderia auxiliar esse processo ao invés de, como se costumava supor, necessariamente perturbá-lo. Hoje em dia essa ideia já não causa espécie, mas na época em que a apresentei muita gente estranhou, e mesmo a recebeu com certo ceticismo. Tudo sopesado, a ideia, em grande medida, foi aceita e até, em certos casos, acolhida com tanta sofreguidão que acabou deturpada. Por exemplo, nunca afirmei que a emoção era um substituto para a razão, mas em algumas versões superficiais depreendia-se que minha ideia era que se você seguisse o coração em vez da razão tudo daria certo.

Na verdade, em certas ocasiões a emoção pode ser um substituto para a razão. O programa de ação emocional que denominamos medo pode afastar rapidamente do perigo a maioria dos seres humanos com pouca ou nenhuma ajuda da razão. Um esquilo ou um pássaro não pensa para reagir a uma ameaça, e o mesmo pode acontecer a um humano. Aí é que está a beleza no modo como a emoção tem funcionado no decorrer da evolução: ela abre a possibilidade de levar seres vivos a agir de maneira inteligente sem precisar pensar com inteligência. Acontece que, nos humanos, essa história tornou-se mais complexa, para o bem e para o mal. O raciocínio faz o que fazem as emoções, mas alcança o resultado conscientemente. O raciocínio nos dá a opção de pensar com inteligência antes de agir de maneira inteligente, e isso é bom: descobrimos que muitos dos problemas que encontramos em nosso complexo ambiente podem ser resolvidos apenas com emoções, porém não todos, e nestas ocasiões as soluções que a emoção oferece são, na realidade, contraproducentes.

Mas como evoluiu nas espécies complexas o sistema de raciocínio inteligente? A proposta inovadora em O erro de Descartes é que o sistema de raciocínio evoluiu como uma extensão do sistema emocional automático, com a emoção desempenhando vários papéis no processo de raciocínio.

(O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano, 2012. Adaptado.)

De acordo com o autor, 

  • a

    o sistema emocional automático pode vir a substituir, com a progressiva evolução humana, o sistema de raciocínio. 

  • b

    a mente humana evolui ao tornar a inteligência cada vez mais independente das limitações impostas pela emoção. 

  • c

    a evolução do sistema de raciocínio humano está intrinsecamente associada ao sistema emocional automático. 

  • d

    a emoção representa um entrave para o homem contemporâneo que quer tomar decisões racionais eficazes. 

  • e

    o desenvolvimento das potencialidades humanas pressupõe o abandono da ideia de que a emoção pode ser de algum modo benéfica.

Apresentando o próprio livro, “O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano”, o autor indica um dos argumentos centrais da obra: ao contrário do que se poderia supor, emoção e razão não se encontram necessariamente dissociados. Segundo o autor, a vinculação entre a emoção e a razão é direta, de modo que o desenvolvimento de um sistema de raciocínio teria se realizado “como uma extensão do sistema emocional automático”.