“O quadro Independência ou Morte retrata o momento em que D. Pedro levanta a espada e proclama a independência do Brasil. Saliento, nessa obra, a pompa em sua composição que sobressai em todos os detalhes. Além disso, note-se que a luz esplendorosa que ilumina os personagens vem do alto, do céu.

A tela do maçom Blanes representa o juramento de 33 homens que, em 25 de agosto de 1825, deram início à reconquista militar da Província Oriental [que] culminou com a independência nacional uruguaia. Enfatizo nesta pintura que os homens pisam num terreno plano e usam roupas comuns. Uma forte luz, que brota da terra, os ilumina, mostrando sua força e determinação interiores.

Assim, Pedro Américo revestiu seu tema com grandeza, ressaltando as aparências exteriores. De outra parte, o uruguaio salienta as virtudes que vinham de dentro dos heróis, fazendo dos trajes apenas acessórios menores que não ofuscam a magnitude da cena histórica. Na minha visão, as escolhas pictóricas de Pedro Américo estão relacionadas ao imaginário simbólico da monarquia e as de Blanes foram inspiradas pelo ideário republicano. São as afinidades políticas que nos fazem entender as concepções diferentes dos dois pintores sobre o mesmo tema da independência.”

PRADO, Maria Ligia C. “A pintura e a construção das identidades nacionais na América Latina”. Nossa América, Revista do Memorial da América
Latina
, n. 59, 2022; p. 22 e 23. Adaptado.

Com base no texto e na leitura das imagens, responda:

a) Como, no tema da tela pintada por Blanes, se articulam as histórias do Brasil e do Uruguai?

b) Que elementos corroboram a ideia de pompa na pintura de Pedro Américo e de despojamento na de Blanes? Indique um elemento de cada imagem.

c) Como, na visão da autora, as pinturas se relacionam com os regimes políticos adotados, após as independências, no Brasil e no Uruguai?

a) A obra Juramento dos 33 Orientais, de Juan Manuel Blanes, 1877, faz referência à Guerra da Cisplatina (1825–1828), conflito por meio do qual o Uruguai derrotou o Exército brasileiro e conquistou sua independência do governo de D. Pedro I.  Na tela está representado Juan Antonio Lavalleja, líder político e militar do Uruguai, conclamando as outras lideranças uruguaias a se mobilizarem para obter sua independência e se libertarem do Império do Brasil. Dessa forma, a articulação das histórias das duas regiões ocorre celebrando a ruptura da antiga Província Cisplatina (Uruguai) em relação ao Brasil.

b) Na tela de Pedro Américo, um elemento que corrobora a ideia de pompa é a vestimenta utilizada pelos personagens retratados a cavalo. Os líderes civis trajam roupas formais, D. Pedro I está em um traje militar e mesmo a cavalaria colocada na cena pelo pintor está plenamente uniformizada, com os soldados arrancando os laços portugueses do fardamento.
Já na tela de Juan Manuel Blanes, o elemento que corrobora a ideia de despojamento pode ser notado também pela vestimenta dos personagens representados. Poucos estão com trajes militares, a maior parte está com trajes característicos da cultura gaúcha e a cena como um todo é representada como algo que ocorreu repentinamente, sendo que alguns uniformes ainda estão jogados ao chão.

c) De acordo com a historiadora Maria Ligia Prado, as escolhas pictóricas de Pedro Américo estão relacionadas ao imaginário simbólico da monarquia brasileira. Por sua vez, as escolhas pictóricas de Blanes foram inspiradas pelo ideário republicano. Ainda segundo a historiadora, são as orientações políticas desses dois artistas que auxiliam na compreensão do fato de o mesmo tema ter sido retratado de forma diferente por eles.