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Para responder à questão, leia alguns trechos do “Prefácio Interessantíssimo” de Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade, obra considerada marco do Modernismo brasileiro e publicada originalmente em julho de 1922.

Leitor:

Está fundado o Desvairismo.

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Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

*

Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo.

*

E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita se pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem.

*

Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiriam minhas ideias (que nem são minhas): discutiram minhas intenções.

*

Um pouco de teoria? Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada.

(Mário de Andrade. Poesias completas, 2013.)



Ao enfatizar o papel do inconsciente na atividade criativa, o “Prefácio Interessantíssimo” expõe uma poética que revela afinidades com a estética 

  • a

    cubista. 

  • b

    futurista. 

  • c

    impressionista. 

  • d

    expressionista. 

  • e

    surrealista.

O “Prefácio Interessantíssimo”, escrito por Mário de Andrade para sua obra Pauliceia Desvairada, publicada em julho de 1922, está conectado com o pensamento das vanguardas europeias de uma forma geral. Ainda que o autor afirme: “Não sou futurista (de Marinetti)”, assume logo em seguida ter pontos de contato com a obra do artista italiano.

O discurso do prefácio preconiza uma tendência literária denominada no próprio texto como “Desvairismo”. A relação da produção escrita com impulsos ligados ao psicológico na tentativa de alcançar o poder expressivo do inconsciente, alheio à racionalidade, é um pressuposto da vanguarda surrealista. A ligação do texto com essa tendência é, inclusive, reforçada no enunciado da questão, ao referir-se à ênfase do papel do inconsciente na atividade criativa.