A primeira transmissão de rádio realizada no Brasil ocorreu no dia 7 de setembro de 1922, durante a inauguração da Exposição do Centenário da Independência no Rio de Janeiro. O então Presidente da República, Epitácio Pessoa, participou do acontecimento e transmitiu seu pronunciamento. O rádio permitia uma encenação de caráter simbólico e envolvente, estratégias de ilusão participativa e de criação de um imaginário homogêneo de comunidade nacional. O importante não era exatamente o que era transmitido e, sim, como era transmitido, permitindo a exploração de sensações e emoções propícias para o envolvimento político dos ouvintes.
(Adaptado de: LENHARO, A. A Sacralização da Política. Campinas: Papirus, 1986, p. 42.)
A partir da leitura do documento acima e
a) considerando as relações entre o evento histórico do 7 de setembro de 1922 e o rádio, cite e explique dois significados da primeira transmissão oficial do rádio no Brasil.
b) tendo em vista os vínculos entre o Presidente e a população brasileira, explique dois aspectos do rádio na cultura política da Era Vargas (1930-1945).
a) Em 1922, data da primeira transmissão oficial do rádio no Brasil, foi um momento de comemoração do centenário da Independência do país. Essa data cívica inspirava a aproximação dos brasileiros com seu passado e abria um espaço para a consolidação de determinadas versões acerca da história do país. O excerto acima indica essa reflexão. Assim, pode-se afirmar que um significado dessa primeira transmissão oficial do rádio foi estimular o sentimento cívico do brasileiro, em um momento em que a república não se sentia mais ameaçada pelo fantasma da monarquia. A transmissão radiofônica, tratando o centenário da independência, colaborou para a construção de uma visão conciliatória dos brasileiros com seu passado, mas sem abrir espaços para movimentos contestatórios. Outro significado está atrelado ao crescimento urbano e à modernização pela qual o país passava. O rádio se apresentava como uma tecnologia de comunicação adequada aos novos tempos de crescimento industrial e dos serviços nas cidades, assim como às dinâmicas sociais e artísticas da década de 1920 no Brasil.
b) Durante a Era Vargas (1930 – 1945), notaram-se características políticas personalistas nas ações do presidente. Vargas procurou aproximar-se das camadas populares urbanas a fim de fortalecer-se politicamente e legitimar suas ações governamentais ao largo do sistema político republicano. O rádio tornou-se, assim, ferramenta eficiente para a criação e manutenção da imagem de Getúlio como um governante benevolente e preocupado com os anseios do povo. Destaca-se aqui a criação do programa “A hora do Brasil”, que mais tarde ficou conhecido como a “A voz do Brasil”. Através do rádio, Vargas adentrava o espaço privado do brasileiro e fortalecia, utilizando-se de discursos nacionalistas e trabalhistas, o apoio da classe trabalhadora urbana do país. Nesse cenário, vale destacar, ainda mais, a questão do nacionalismo varguista, que se apoiava também em manifestações culturais, tais quais a música, que exaltava as qualidades do Brasil em versões, que afastavam determinadas realidades do cenário político, econômico e social dos ouvidos dos cidadãos. Foi a era de ouro do rádio, momento quando a música popular brasileira ganhou notoriedade nacional e internacional nas vozes de Carmem Miranda, Ari Barroso e outros.