TEXTO I

A primeira grande lei educacional do Brasil, de 1827, determinava que, nas “escolas de primeiras letras” do Império, meninos e meninas estudassem separados e tivessem currículos diferentes. No Senado, o Visconde de Cayru foi um dos defensores de que o currículo de matemática das garotas fosse o mais enxuto possível. Nas palavras dele, o “belo sexo” não tinha capacidade intelectual para ir muito longe: — Sobre as contas, são bastantes [para as meninas] as quatro espécies, que não estão fora do seu alcance e lhes podem ser de constante uso na vida.

TEXTO II

No Senado, o único a defender publicamente que as meninas tivessem, em matemática, um currículo idêntico ao dos meninos foi o Marquês de Santo Amaro (RJ). Ele argumentou: — Não me parece conforme, às luzes do tempo em que vivemos, deixarmos de facilitar às brasileiras a aquisição desses conhecimentos [mais aprofundados de matemática]. A oposição que se manifesta não pode nascer senão do arraigado e péssimo costume em que estavam os antigos, os quais nem queriam que suas filhas aprendessem a ler.

WESTIN, R. Senado Notícias. Disponível em: www12.senado.leg.br.
Acesso em: 20 out. 2021 (adaptado).

Os discursos expressam pontos de vista divergentes respectivamente pela oposição entre

  • a

    liberdade de gênero e controle social. 

  • b

    equidade de escolha e imposição cultural. 

  • c

    dominação de corpos e igualdade humana. 

  • d

    geração de oportunidade e restrição profissional. 

  • e

    exclusão de competências e participação política.

Gabarito Anglo: E [GABARITO OFICIAL: C]

No entendimento da equipe de Sociologia do Curso Anglo, em primeiro lugar, observa-se que a questão exige uma resposta na qual os itens correspondam respectivamente aos dois textos propostos. Assim, o Texto I reflete essencialmente a dominação de classe que, na época, se traduzia também numa dominação de corpos – o “belo sexo” não tinha capacidade para ir muito longe – sem perder a raiz na mentalidade de classe. A levar em conta que o texto se refere à lei educacional de 1827, a discussão se transpõe para o campo político, este sim mais bem contemplado no Texto II.

Os pontos de vista divergem em relação à postura excludente exposta no texto I e à defesa da igualdade de direitos entre gêneros numa sociedade conservadora e autoritária como a brasileira. Na passagem do Império à República, o questionamento atingiu o espaço político e se refletiu nas discussões sobre a estrutura educacional do país.

Portanto, entendemos que a alternativa C (que consta no gabarito oficial) aponta aos dois itens para o Texto I: dominação (de classes) e negação política da igualdade (jurídica) e da própria cidadania. De outra parte, a alternativa E remete “às luzes do tempo em que vivemos”, ou seja, à consolidação dos ideais liberais burgueses e ascensão de movimentos populares de caráter socialdemocrata e revolucionário, enfatizando a exclusão de competências e a participação política, no caso voltadas para a posição feminina na sociedade.