Papos

— Me disseram...

— Disseram-me.

— Hein?

— O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.

— Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?

— O quê? — Digo-te que você...

— O “te” e o “você” não combinam.

— Lhe digo?

— Também não. O que você ia me dizer?

— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. [...]

— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...

— O quê?

— O mato.

— Que mato?

— Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!

— Se você prefere falar errado...

— Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?

VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (adaptado).

Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido por um dos personagens torna-se inadequado em razão do(a)

  • a

    falta de compreensão causada pelo choque entre gerações. 

  • b

    contexto de comunicação em que a conversa se dá. 

  • c

    grau de polidez distinto entre os interlocutores. 

  • d

    diferença de escolaridade entre os falantes. 

  • e

    nível social dos participantes da situação.

No texto em questão, além de se tratar de uma conversa, podem-se perceber algumas marcas de intimidade de uma interação informal. Não é adequado, portanto, que um dos interlocutores exija do outro marcas de formalidade que não são típicas do gênero conversa, como a da obediência às regras de colocação pronominal, ou a da uniformidade de tratamento.