Mas seu olhar verde, inconfundível, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela, dizia logo a sua origem cruzada e decantada através das misérias e dos orgulhos de homens de aventura, contadores de histórias fantásticas, e de mulheres caladas e sofredoras, que acompanhavam os maridos e amantes através das matas intermináveis, expostas às febres, às feras, às cobras do sertão indecifrável, ameaçador e sem fim, que elas percorriam com a ambição única de um “pouso” onde pudessem viver, por alguns dias, a vida ilusória de família e de lar, sempre no encalço dos homens, enfebrados pela procura do ouro e do diamante.

PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.

Ao descrever os olhos de Maria Santa, o narrador estabelece correlações que refletem a

  • a

    caracterização da personagem como mestiça.

  • b

    construção do enredo de conquistas da família.

  • c

    relação conflituosa das mulheres e seus maridos. 

  • d

    nostalgia do desejo de viver como os antepassados. 

  • e

    marca de antigos sofrimentos no fluxo de consciência.

Gabarito Anglo: A

O narrador do texto de Cornélio Penna encontra no olhar da personagem “a sua origem cruzada e decantada através das misérias”, o que sugere uma clara caracterização da personagem como tendo origem em diferentes etnias, ou seja, como mestiça.

O Curso Anglo, respeitosamente, diverge do gabarito oficial.

Gabarito oficial: E

A descrição dos olhos da personagem alude de fato a "marcas de antigos sofrimentos", como diz a alternativa, por meio da menção a riscos, perigos e dificuldades enfrentadas pelos homens e pelas mulheres em questão: "febres", "feras", "cobras", a "procura do ouro e do diamante", o ambiente "ameaçador e sem fim". A marcação dessa alternativa, porém, exige que se entenda "fluxo de consciência" num sentido amplo. Tecnicamente, esse recurso literário seria uma intensificação do monólogo interior, o que implica primeira pessoa (e excluiria a terceira, predominante no excerto). A banca parece ter considerado "fluxo de consciência" como uma representação do pensamento em geral, aqui escrita em "fluxo" por vir num único período, bastante longo, como a imitar os processos mentais. Nesse caso, seria possível marcar a alternativa E.