Texto 1
“Desde que, naufragado, se salvara, o marinheiro vivia ali... Como ele não tinha meio de voltar à pátria, e cada vez que se lembrava dela sofria, pôs-se a sonhar uma pátria que nunca tivesse tido: pôs-se a fazer ter sido sua uma outra pátria, uma outra espécie de país com outras espécies de paisagens, e outra gente, e outro feitio de passarem pelas ruas e de se debruçarem das janelas (...)”
(PESSOA, Fernando. O Marinheiro. Campinas: Editora da UNICAMP, p. 59, 2020.)
Texto 2
“Na capacidade para amoldar-se a todos os meios, em prejuízo, muitas vezes de suas próprias características raciais e culturais, revelou o português melhores aptidões de colonizador do que os demais povos (...). Os portugueses precisaram anular-se durante o longo tempo para afinal vencerem. Como o grão de trigo dos Evangelhos, o qual há de primeiramente morrer para depois crescer e dar muitos frutos.”
(HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, p. 224, 2016.)
Levando em conta os textos 1 e 2, assinale a alternativa correta.
Tanto na cena de O marinheiro, drama estático de Fernando Pessoa, como no excerto de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, o português é caracterizado como alguém que é capaz de transformar seus hábitos e experiências, forjando uma outra realidade, por estar muitas vezes impedido de retornar à pátria. O marinheiro, no fragmento da peça, não queria mais sofrer ao lembrar-se de seu país e, para evitar essa lembrança, põe-se a sonhar uma pátria que nunca teve. Já Sérgio Buarque afirma que “Os portugueses precisaram anular-se durante o longo tempo para afinal vencerem” e que sempre possuíram mais aptidões para a colonização que outros povos.