Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo é o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente para nós mais moderna do Romantismo. A sua obra é a mais variada e complexa no quadro da nossa poesia romântica; mas a imagem tradicional de poeta sofredor e desesperado atrapalhou a reconhecer a importância de sua veia humorística.

(Antonio Candido. “Prefácio”. In: Álvares de Azevedo. Melhores poemas, 2003. Adaptado.)

A veia humorística ressaltada pelo crítico Antonio Candido na poesia de Álvares de Azevedo está bem exemplificada em:

  • a

    Cavaleiro das armas escuras,
    Onde vais pelas trevas impuras
    Com a espada sanguenta na mão?
    Por que brilham teus olhos ardentes
    E gemidos nos lábios frementes
    Vertem fogo do teu coração?

  • b

    Ontem tinha chovido... Que desgraça!
    Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
    Mas lá vai senão quando uma carroça
    Minhas roupas tafuis encheu de lama...

  • c

    Pálida, à luz da lâmpada sombria,
    Sobre o leito de flores reclinada,
    Como a lua por noite embalsamada,
    Entre as nuvens do amor ela dormia!

  • d

    Se eu morresse amanhã, viria ao menos
    Fechar meus olhos minha triste irmã;
    Minha mãe de saudades morreria
    Se eu morresse amanhã!

  • e

    Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
    Que o espírito enlaça à dor vivente,
    Não derramem por mim nem uma lágrima
    Em pálpebra demente.

A imagem do eu lírico tendo as roupas manchadas de lama, enquanto ia encontrar-se com a amada, mostra, nesse trecho de “Namoro a cavalo”, a veia humorística do byronismo de Álvares de Azevedo.