“As sociólogas, filósofas e ativistas feministas destacaram, com o conceito de ‘reprodução social’, algo que a teoria econômica ocultava: para que haja produção de bens e de serviços é necessário que as pessoas que os produzem sejam, por sua vez, produzidas. O trabalho da reprodução social, portanto, cria e repõe a condição primordial e necessária – a existência de pessoas que trabalham – para que a produção econômica possa continuar ocorrendo. Em grande medida, esse trabalho é relegado ao ambiente familiar e às mulheres: cuidado com os filhos, cuidado com doentes e idosos, preparação de alimentos, limpeza e arrumação da casa e outros. O trabalho de reprodução se opõe, socialmente, ao trabalho de produção; este está inserido numa economia organizada com base em empresas – nas fábricas, na agricultura, nos escritórios –, voltado para o mercado e é percebido como merecedor de contrapartida financeira: o salário. Assim, mesmo quando um trabalho da esfera da reprodução se realiza por meio de uma relação de emprego, se for realizado por mulheres, ele costuma ser mal pago e desfrutar de menor prestígio.”

ARRUZZA, Cinzia; BATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os
99%
: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019.

“A chamada ‘economia do cuidado’ é o conjunto de atividades não remuneradas, geralmente exercidas por mulheres, como a limpeza da casa, preparação de alimentos e os cuidados com crianças, idosos e doentes da família. Um pacote que vale 11% do PIB atual (...). Em valores, foram cerca de 634,3 bilhões de reais em 2015 [por exemplo]. (...) Contabilizar o valor dos afazeres domésticos no PIB do Brasil só se tornou possível a partir de 2001, quando o IBGE introduziu na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) a pergunta referente ao número de horas despendido pela população para executar essas atividades.”

Disponível em https://www.cartacapital.com.br/.

Nos textos apresentados, encontram-se dois conceitos, o de “reprodução social” e o de “economia do cuidado”. De acordo com as definições desses conceitos e com os dados indicados, qual das afirmações a seguir está correta?

  • a

    Os conceitos de reprodução social e de economia do cuidado são contraditórios porque o primeiro se refere a todo trabalho doméstico e o segundo apenas ao trabalho doméstico pago e que é possível contabilizar. 

  • b

    Ambos os conceitos se referem a um tipo de trabalho cuja importância é socialmente reconhecida, fato que pode ser comprovado pela porcentagem expressiva que ele representava do PIB brasileiro no ano de 2015. 

  • c

    As definições de reprodução social e de economia do cuidado excluem, necessariamente, a possibilidade de que o Estado seja responsável por parte das tarefas envolvidas na reprodução das pessoas. 

  • d

    A contabilização no PIB dos valores dos afazeres domésticos no contexto da economia do cuidado abarca apenas uma parte da reprodução social, pois não inclui o trabalho doméstico remunerado e os trabalhos de reprodução executados fora do ambiente doméstico. 

  • e

    Os dados estimados sobre a participação das atividades domésticas não remuneradas no PIB do Brasil mostram que a reprodução social acontece apenas quando não há uma relação salarial entre quem executa e quem se beneficia desse tipo de trabalho.

O texto I apresenta o conceito de “reprodução social” para se referir à invisibilidade de trabalhos que geralmente são atribuídos às mulheres e são fundamentais para que as demais atividades laborais se viabilizem. Daí a centralidade desses trabalhos domiciliares, de cuidado. Já o texto II aborda o conceito de “economia do cuidado”, para se referir às atividades não remuneradas – de reprodução social – e sua participação no PIB brasileiro.  De fato, a contabilização do IBGE abarca apenas uma parcela das atividades de reprodução social, visto que se refere ao tempo desprendido em tarefas de cuidado não remuneradas e realizadas em casa, não incluindo o trabalho doméstico remunerado e os trabalhos de reprodução social realizados fora do lar.