“O plano dos Estados Unidos de derrubarem a Revolução já estava esboçado na ocasião em que Mikoyan [vice-líder no governo soviético de Nikita Kruschev] visitou Havana, em fevereiro de 1960 (...). A CIA propunha a sabotagem das refinarias de açúcar de Cuba, a principal fonte de riqueza da ilha. (...)
Como prometido, Fidel Castro reagiu contra os Estados Unidos (...). Ele anunciou a nacionalização de todas as propriedades norte-americanas importantes da ilha. (...) Numa frase sinistra (...), Castro salientou que a Cuba revolucionária tinha agora o apoio militar de fora do continente. Cuba ‘aceitaria com gratidão’, disse ele, ‘a ajuda dos foguetes da União Soviética (...)’.
Naquele mês, a lenha fora jogada na fogueira, quando Castro chegou a Nova York para falar na Assembleia Geral da ONU, instalando-se no Harlem. (...)
Castro ficou no [hotel] Theresa, cercado por um grupo de admiradores (...) e numa tarde memorável foi visitado pelo líder soviético. (...) Kruschev escreveu nas suas memórias que ‘indo a um hotel negro num bairro negro, nós estávamos fazendo uma dupla demonstração contra as políticas discriminatórias dos Estados Unidos em relação aos negros, assim como em relação a Cuba’”.
GOTT, Richard. Cuba: uma nova história. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. p.210-213.
Adaptado.
As tensões políticas abordadas no texto referem-se
Após o sucesso da Revolução Cubana em 1959, as primeiras medidas do novo regime afetaram os interesses dos Estados Unidos na ilha e resultaram no estremecimento da relação entre os dois países. No contexto da bipolarização mundial durante a Guerra Fria, a hostilidade dos Estados Unidos acabou resultando em uma aproximação de Cuba com a União Soviética, o que acabou reforçando o engajamento do regime cubano com o modelo socialista soviético. O texto cita o episódio da visita de Fidel à ONU, em Nova York, quando aproveitou para colocar em evidência a questão racial nos Estados Unidos, seja através do seu discurso (nesse sentido, apoiado pelo líder soviético Nikita Khruschev), seja hospedando-se no bairro do Harlem, de maioria negra.