O lugar do ensino superior agora tem as portas abertas. A (...) Constituição é que impõe essa situação por decreto. Mas (...) este não pode garantir que todos tenham a tal ‘capacidade’ que lhes vai permitir o aproveitamento dessa educação. Há rapazes – até agora são poucas as moças com a força de vontade que Jabu, ainda menina, tinha para dar e vender – que recebem bolsas ou auxílios de algum tipo (...). As ‘aulas de reforço’ (...): um band-aid. Steve sabe que isso não é uma solução para o abismo da educação ruim do fundo do qual os alunos tentam emergir.

A Luta não terminou.

– (...) Eu tenho alunos de estudos africanos que não sabem escrever (...).

– Então o que é que nós devíamos estar fazendo? (...) O professor Nielson ainda usa terno (...), embora o padrão da indumentária tenha relaxado a partir do exemplo dado pelas túnicas de Mandela. (...) – Você não está propondo que a gente baixe ainda mais os critérios de admissão à universidade. Então a universidade é pra avançar no conhecimento ou é pra andar pra trás?

O que Steve está perguntando é se esse ensino adicional de faz de conta na esperança de elevar os alunos a um nível universitário pode compensar dez anos de educação primária e secundária de péssimo nível.”

GORDIMER, Nadine. O melhor tempo é o tempo presente. São Paulo:
Companhia das Letras, 2014. p.82-83.

No excerto do romance da escritora sul-africana Nadine Gordimer, é possível identificar:

  • a

    o regime de apartheid em vigor na África do Sul na época em que o romance se passa, que mantinha alunos e professores negros fora da universidade.

  • b

    a segregação formal das mulheres no acesso à educação, conforme estabelecido pela Constituição promulgada no pós-apartheid.

  • c

    as eficazes estratégias de apoio aos estudantes pobres para assegurar a boa qualidade da educação básica e superior na época do apartheid.

  • d

    as incertezas sobre as estratégias adotadas para enfrentar desigualdades sociais e educacionais legadas pelo regime do apartheid na África do Sul.

  • e

    o reconhecimento consensual do sucesso do projeto de inclusão educacional no cenário sul-africano pósapartheid.

O texto do enunciado faz referências a um momento posterior ao fim do apartheid, quando uma nova constituição foi feita após a libertação e ascensão de Nelson Mandela à presidência da África do Sul. Nesse contexto, tivemos o fim das leis segregacionistas, no entanto, no excerto podemos perceber problemas relacionados a essa nova situação, pois os muitos anos do regime segregacionista deixaram um legado difícil de ser transposto de forma rápida. Os problemas sociais e a má qualidade da educação básica legada à população negra criaram um abismo que separava essa comunidade do meio acadêmico.